“Com oito ela limpa casa de família em troca de comida,
mas só queria brincar de adoleta;
Sua vontade esconde-esconde,
já que a sociedade pega-pega sua liberdade e transforma em tristeza”
A música “Sementes”, do rapper Emicida em parceria com Drika Barbosa, lançada em 2020, retrata de forma impactante a realidade de muitas crianças brasileiras que, ao invés de brincarem, se veem obrigadas a trabalhar desde cedo. A faixa foi produzida em colaboração entre o Ministério Público do Trabalho (MPT), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Justiça do Trabalho e o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), divulgada pelo IBGE em 2023, cerca de 1,9 milhão de crianças e adolescentes brasileiros entre 5 e 17 anos estão envolvidos em alguma forma de trabalho infantil, o que representa 4,9% dessa faixa etária no Brasil.Em 2019, o estado do Amazonas contava com 56.601 crianças e adolescentes de 5 a 17 anos em situação de trabalho infantil, o que correspondia a 6% do total de crianças nessa faixa etária no estado, uma porcentagem acima da média nacional de 4,8%.
O projeto “Mobilizar e Agir”, uma parceria entre o Instituto de Assistência à Criança e ao Adolescente (IACAS) e a Petrobras, realizou diversas oficinas socioeducativas e palestras durante o mês de junho no bairro Mauazinho, zona leste de Manaus, além de cinco comunidades no interior do Amazonas.
Entre os dias 4 e 28 de junho, as atividades foram conduzidas nas instituições educacionais: Escola Municipal Nova Vida, Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) Padre Luis Ruas, Escola Estadual Benedito Almeida, além do Espaço Educacional de Apoio Pedagógico Rubens Gomes, e da Associação Beneficente Social Violeta, todas localizadas no Mauazinho. No interior do Amazonas, as comunidades Santa Maria do Curupira, Deus Proverá de Juarana, Nossa Senhora Aparecida do Martelo, Nossa Senhora de Nazaré da Ilhinha e Santa Luzia do Buiçuzinho também receberam as atividades do projeto.
As oficinas são caracterizadas por uma abordagem dinâmica, utilizando elementos visuais e sonoros para facilitar a assimilação dos conteúdos pelas crianças. Luceni Ferreira, professora de educação infantil da Escola Nova Vida, destaca a importância do projeto ao levar o tema do trabalho infantil para as salas de aula de maneira lúdica. Para a professora, “O projeto tem agregado muito, principalmente em questões como o combate ao trabalho infantil. O ‘Mobilizar e Agir’ conscientiza as crianças para que elas possam reconhecer essa forma de violência e saibam como buscar ajuda, podendo informar o professor, membros do projeto ou qualquer pessoa de confiança sobre situações de abuso que estejam enfrentando.”
O programa visa ampliar o conhecimento das crianças sobre o tema e mobilizar a comunidade para combater o trabalho infantil. Mensalmente, o Instituto aborda temas transversais com foco na exploração e violência sexual, além dos direitos humanos.
Izys Maria, educadora do projeto, ressalta que “esses temas são trabalhados com ênfase no combate à exploração e violência sexual, além dos direitos humanos, de forma dinâmica, com uma identidade visual e sonora que facilita a compreensão das crianças. A instituição e sua equipe são fundamentais na prevenção de violências e na promoção de uma cultura de compartilhamento de informações nas escolas e comunidades”, informa a educadora.
No interior do Amazonas, as comunidades atendidas são selecionadas pela Petrobras e o público das oficinas varia de crianças a adultos. Jade Silva, pedagoga do projeto, compartilha sua experiência: “Faço parte da equipe há 4 meses, e é muito gratificante estar diretamente envolvida nessas ações. O impacto é incrível. Estar ali com aquelas crianças e oferecer o melhor de si é incrível; eles esperam ansiosamente pela chegada da equipe. A simplicidade de cada um, o sorriso sincero, o abraço espontâneo e a mão estendida são únicos e especiais.”
O PNADC de 2019 demonstrou que as crianças e adolescentes amazonenses eram, majoritariamente, ‘agricultores e trabalhadores qualificados em atividades da agricultura, como hortas, viveiros e jardins’, ocupação que abrigava 32,4% ou 18.330 das crianças e adolescentes trabalhadores; seguido de ‘’trabalhadores elementares da agricultura’, totalizando 4.443 ou 7,9%; e ‘pescadores’, com o número de 3.379 ou 6,0%. Iniciativas como o ‘Mobilizar e Agir’ têm o potencial de transformar a realidade e o número de crianças em situação de trabalho infantil no Amazonas.
Acesse a música ‘Sementes’ no YouTube: